Material deve
ser disponibilizado como acervo científico da instituição. Coleção será levada
ao Rio por um
caminhão neste sábado 23/02
Por: Revista REDE
22/02/2019 – 13:17:10
Texto da Agência Brasil, publicado originalmente na noticias.r7.com
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O médico Luiz Stawiarski doará mais de 2 mil espécimes de borboletas e outros insetos. | Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
A sala de jantar
do médico Luiz Cláudio Stawiarski está tomada por insetos. Sobre a mesa,
quadros entomológicos exibem as mais variadas formas de aranhas, besouros e
libélulas. Um móvel de madeira posicionado ao lado da mesa reúne gavetas de
borboletas e mariposas. Ao todo, são 2 mil insetos que, neste sábado (23) serão
doados ao Museu Nacional do Rio de Janeiro para ajudar na reconstrução do
acervo, destruído por um incêndio de grandes proporções, em setembro do ano
passado.
“Vejam,
borboletas de asas verdes, elas são muito raras. E esta, a maior espécie de
mariposa encontrada no Brasil”, diz Luiz Cláudio, enquanto exibe orgulhoso a
coleção. Ele é filho de Victor Stawiarski, professor de biologia, que por 30
anos, a partir de 1940, deu aula no Museu Nacional. Os insetos, paixão do pai
que faleceu em 1979, foram coletados tanto pelo pesquisador quanto pelo médico
no Rio de Janeiro, Paraná e Pará. O acervo têm hoje, portanto, entre 30 e 40
anos.
O material que
está na casa do médico era usado pelo pai nas aulas que dava. Além desses, o
biólogo havia coletado centenas de outros, que faziam parte do acervo do Museu
Nacional. “Foi a minha filha que deu a ideia de fazer a doação. Aqui, o
material ficava guardado, tudo bagunçado. Não vou dizer que ele vai voltar para
o lugar de onde não deveria ter saído, porque se não tivesse saído, teria
queimado”.
A doação será
feita no nome do Victor Stawiarski: “Certeza que de onde ele estiver, ele
estará feliz com isso”. Luiz Cláudio conta que, por meses, dedicou-se a organizar
o material.
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Coleção doada deve ser disponibilizada como acervo científico. | Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
AMOR AOS INSETOS
O principal
objetivo de expor os insetos é despertar o amor à natureza. “Quem conhece,
respeita. Meus filhos nunca mataram um bicho. Se acham um inseto, vão soltar lá
fora. Você passa a se sentir mais um ser vivo, não é superior a ninguém”, diz.
Ao lado do
marido, Luiza Stawiarski, concorda. Professora aposentada, ela fez cursos com o
sogro, no Rio de Janeiro. Dele, ganhou dois quadros. O preferido exibe insetos
que se camuflam na natureza. Entre eles, uma borboleta com olhos de coruja nas
asas e outras com asas que imitam folhas secas. “Elas têm inclusive partes que
parecem folhas quebradas”, mostra Luiza. Os quadros também serão doados.
O preferido de
Luiz Cláudio é outro, o dos besouros: alguns grandes, quase do tamanho de um
punho fechado, e outros pequenos, menores que a falange de um dedo. O que
encanta neles, explica o médico, não é a armadura, mas a leveza que escondem.
“Você custa a imaginar que eles possam voar. A parte de fora parece uma
armadura. Mas quando levanta, você vê a asa, fininha. Isso é um contrassenso,
como é que se sustenta?”, intriga-se.
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Acervo de insetos do Museu Nacional era referência no país e internacionalmente. | Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
REFERÊNCIA
INTERNACIONAL
Segundo a
professora do departamento de entomologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio
de Janeiro) Marcela Monne, o acervo de insetos do Museu Nacional era referência
no país e internacionalmente. Não há um número exato de insetos, mas a
estimativa é de que a coleção reunia entre 5 e 10 milhões de peças. Apenas uma
pequena parte escapou do incêndio, 42 mil exemplares de moscas e mosquitos.
Foi com Marcela
que Stawiarski entrou em contato para fazer a doação. A professora explica que
o acervo doado, quando chegar ao Rio de Janeiro, será analisado quanto a
qualidade e deverá ser disponibilizado como acervo científico, usado para
pesquisa. Amanhã, um caminhão do Museu Nacional buscará o material na casa de
Luiz Cláudio e a viagem será feita por terra.
“As doações têm
vindo não só de insetos, mas de materiais, como alfinetes, que precisamos para
a reconstrução do acervo”, conta a professora. Outras pessoas que desejem doar
algum acervo de interesse da instituição podem entrar em contato com o Museu
pelo site. Outro canal para doações é via Sociedade Brasileira de Zoologia, que
incentiva instituições nacionais a doarem exemplares de suas coleções.
Desde o
incêndio, Marcela conta que recebe mensagens de pessoas que querem aprender a
coletar insetos para ajudar a reconstruir o acervo. Ela esclarece, no entanto,
que a coleta não pode ser feita por amadores. Para isso, é necessário ter
autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. “O
pesquisador só recebe autorização para coletar o animal ou a planta com a qual
ele trabalha, [na área] em que é especialista”, explica.
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